Thursday, March 28, 2013

Georgiana Abramovic



Uma sala. Duas cadeiras, uma mesa, um vaso com flores. Girassóis.

Silêncio. A atriz está sentada em uma das cadeiras e a convenção diz que você deve se sentar na outra. Ficam, então, de frente; cara a cara. Ela abre o olho e te olha. E te olha. E te olha tão profundamente que é impossível não estar inteiramente presente.

Começa o texto. Trata-se de um monólogo preparado por ela, Georgiana Góes, para o Festival Home Theatre. Funciona sempre assim: uma pessoa por vez, durante algumas horas. Ela repete o texto (de 20 minutos aproximadamente) várias vezes ao dia, para várias pessoas diferentes. Umas conhecidas, outras não. Pequenos e grandes gestos de despedida.

O texto é sobre um amor que ela viveu. Um amor que muita gente já viveu, um amor intenso, complicado, sincero, devastador. Um amor de anos. O texto é sobre esse amor e a separação dessas duas partes, que por vezes eram uma. 

Todo o tempo Georgiana preservou a intimidade desse amor, referindo-se sempre pelo pronome Ele. Escrevo assim, com letra maiúscula, não por nenhuma relação com Deus, mas por se tratar do "nome" dessa pessoa. Desse jeito, Ele pode ser o ele dela, o meu, o seu... Ele não é mais a pessoa, mas o amor. O Amor que eu não me sinto segura em dizer que acabou, mas que se despediu. Pequenos e grandes gestos de despedida. O texto dela fala sobre esse momento - que às vezes dura por muitos momentos.

Ela brinca de equilibrista, andando numa corda bamba que separa o teatro da performance. O texto, a precisão das palavras, o controle da atriz; isso é teatro. A presença, a intensidade da presença, a emoção que transborda; isso eu chamo de performance. Digna do trabalho de Marina Abramovic em The Artist is Present, eu diria. Diria, somente, pois não fui ao MoMA presenciar a presença de Marina. Mas fui à Laranjeiras presenciar a presença de Georgiana.

Logo antes de entrar na sala me lembrei da minha mãe e irmã - que assistiram, uma de cada vez, ao ensaio - contando suas experiências. Como aqueles 20 minutos mexeram com elas, com sentimentos intensos que estavam adormecidos. Fiquei nervosa: e se eu não sentisse nada daquilo? Bobagem né, cada um sente o que tem que sentir, não tem que ser igual ao outro. Não me lembrei disso na hora e fiquei ansiosa. Entrei.

Na saída, precisei de um tempo para me recompor. Recompor espiritualmente, mentalmente. Acho que fiquei fisicamente cansada. Uma mulher que estava na organização do evento me pediu para dar um depoimento e não conseguia falar nada, meus olhos lacrimejavam. Demorou dois dias para conseguir transformar em palavras um pouco do que eu senti. Me senti, acho, um pouco mais presente.

Georgiana é muito forte. Muito linda.