Sunday, October 9, 2011

Turbilhão: primeiro dia de Festival do Rio

Não sei nem por onde começar. As palestras do Festival valeram super a pena, ainda bem que eu fui, mesmo sozinha. O tema das duas mesas de hoje era o sucesso na televisão. Primeiro conversaram Marcelo Tas, Tonico Pereira e André di Biase. Depois o foco estava nos autores: Claudio Paiva, A Grande Família. Tapas e beijos; Thelma Guedes e Duca Rachid, Cordel Encantado!!!; Newton Cannito, Cidade dos Homens; Margareth Boury, Rebelde; Marcílio Moraes, A Lei e o Crime. Ambas mediadas por Marcos Didonet, um dos organizadores do Festival.

A primeira mesa acabou sendo mais cômica, claro, mas consegui extrair boas ideias. Tonico começou sua fala dizendo que é muito difícil diferenciar o sucesso do sucesso. Tem o sucesso que de certa forma é ruim, que é se preocupar somente com os números (um filme de sucesso pode ser um filme genial ou um filme com boa bilheteria) e o sucesso bom, que é o de ser reconhecido no seu trabalho, prestigiado. E ainda mostrou uma humildade ao dizer que "todos nós em algum momento temos a possibilidade de ser artistas, mas isso não é uma constante". Um cara genial que nem ele tem o pé no chão. Alguém da platéia classificou bem: ele é integralmente ator, não se perdeu na fama e, por isso, digo que é um ator de muito sucesso. E, sim, um artista.

Marcelo Tas aproveitou Shakespeare para sua definição de sucesso: é a capacidade que a gente tem de tocar o coração das pessoas, de contaminá-las. Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth... são histórias que mexem com a gente, por isso continuam tão fortes até hoje. O sucesso que faz um ex-BBB é instantâneo, depois de um tempo todo mundo esquece. André di Biase contou a experiência de sucesso estrondoso que teve com Armação Ilimitada nos anos 1980 e define o sucesso como retribuição do esforço artístico.

Não existe mesmo receita para o sucesso. E pior, depois de um grande sucesso, como se libertar dessa obrigatoriedade de fazer uma coisa à altura? Thelma Guedes e Duca Rachid estão atualmente sob esse dilema. Com o fim da maravilhosa Cordel Encantado e pressão do público por uma "versão dois" da novela, as autoras agora têm que se perguntar novamente qual é a história que eu quero contar? e partir para a próxima. É muito importante o autor de novela gostar de novelas e contar uma história que seja de interesse próprio, essa é a base de um bom projeto. Acreditar naquilo o tempo todo.

Tomei coragem e fiz até uma pergunta aberta para a mesa:
Até que ponto o roteirista pode colaborar com figurino e direção de arte? Vocês podem interferir no processo, aprovar ou vetar ou só ficam sabendo o resultado quando já está pronto?
Sempre tive essa impressão, que o diretor acompanha o processo todo, mas o roteirista na minha cabeça aparecia só nessa primeira fase da criação - que, não por isso, eu achava menos importante! Descobri que não, na televisão o autor participa do processo todo, da escolha do elenco ao figurino e direção de arte, sim. As autoras de Cordel disseram que a ideia original para o figurino do Capitão Herculano envolvia um chapéu de cowboy no lugar do tradicional chapéu de cangaceiro e elas bateram pé que queriam o original. E ainda bem, não consigo nem pensar no Domingos Montagner caracterizado de outra forma. Claudio contou que em Tapas e beijos havia imaginado Fátima e Suely mais simples, com um tom abaixo no figurino, mas acabou gostando do resultado. É importante, na construção do personagem, que o autor veja aquilo que imaginou ao criar, o diretor veja o que imaginou ao ler, o figurinista represente a impressão que teve de cada personagem e o ator se sinta bem.

Na resposta de outra pergunta, Margareth fez uma pequena comparação que serviu também para me ajudar a entender como funcionam as coisas nesse(s) universo(s): "A TV é do autor, o teatro é do ator e o cinema é do diretor". É importante, para cada meio de comunicação, investir no profissional mais adequado.

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Na saída atravessei a rua para pegar um ônibus e, como estava sem música, fui acompanhada dos meus pensamentos. Seria legal se eu tivesse esperando um táxi na porta do Armazém e conseguisse uma carona. Seria legal se fosse uma carona com alguém da mesa do debate... Thelma Guedes, Duca Rachid, Claudio Paiva. Nossa, seria muito legal pegar carona com Claudio Paiva, o cara é um gênio! Eis que, 20 minutos esperando o ônibus - na zona portuária, num domingo, ou seja, Cidade Fantasma - resolvi atravessar de volta para pegar um táxi mesmo. E, na maior improbabilidade da vida, quem me oferece carona? Ninguém menos que Claudio Paiva, criador d'A Grande Família e muito mais. Cheguei em casa atônita e incrédula. E ele me reconheceu (a menina que fez a pergunta sobre figurino) e viemos conversando, ele contou casos do trabalho e no final me desejou boa sorte. Ganhei meu dia.

#Dis Lui Non - Françoise Hardy

1 comment:

Marina RO Hermeto said...

VC tá escrevendo gostoso de se ler! Tal como fala!eu que ouvi este relato de viva voz, adorei lê-lo. Gostei demais de"...como estava sem música, fui acompanhada dos meus pensamentos." Deram bons frutos seus pensamentos.