Saturday, October 15, 2011

O sublime e o abismo (prateado)

Ontem cheguei em casa 00:45 depois de um dia inteiro exaustivo na rua, tendo começado às 5:30. Obviamente não tive forças pra postar nada, mas tinha um texto em mente - sim, é sobre o Festival e sim, ainda não estou voltando meu foco pro figurino ainda. Mas então, a ideia era falar sobre o necessário Sudoeste e o insosso O Abismo Prateado. Acontece que hoje eu tinha um dia lindamente planejado, começando com um workshop de figurino, A hora e a vez de Augusto Matraga e depois o Cine Encontro (debate) sobre o filme. Claro, estava contando com qualquer coisa de comer ali do bar do Armazém, já não tem nada por perto*.

Vou primeiro, então, contar minha profunda decepção com a organização do Festival e depois volto aos filmes. O nome workshop dá aquela ideia bacana de que a gente criar alguma coisa né? Nem que fosse decupar um roteiro só... mas não, foi uma palestra. Uma palestra muito cara. Desinteressante não foi, mas definitivamente não valeu o preço. Tudo isso porquê? Um certificado de 4 horas para eu entregar na faculdade. Obrigada, hein - isso porque no ano passado eu trabalhei de fotógrafa voluntária pelo menos umas 40 horas e o certificado que me deram foi de 20 horas.

O Pavilhão desse ano, além de ser pior de chegar (é perto, mas ano passado a rua da esquina tinha muito mais opção de ônibus) é menor. O banheiro é químico. O som escapa das salas, então as palestras e debates são invadidos pelo som dos filmes, é horrível. Hoje, depois da decepção do "workshop" eu pensei que almoçaria no bar que eles montaram ali dentro e seguiria o dia normal, com filme + debate. Não, justo num sábado - dia que a maioria das pessoas pode fazer programas de lazer, tipo ir até a zona portuária assistir um filme e um debate - resolveram fazer a feijoada restrita para convidados. Lá no Pavilhão, ó que lindo! E sem aviso nenhum, que é um absurdo, o lugar hoje não tinha bar. Não tinha comida para os reles mortais que resolveram usar seu sábado para fazer um programa cultural.


Fecha os olhos.
Agora escuta o som da chuva.

Enfim, passada minha raiva, vamos aos filmes. Nunca tinha ouvido falar nesse diretor, vale ficar de ouvidos (e olhos) atentos, que ele promete: Eduardo Nunes. Sudoeste é diferente de tudo que tem sido produzido ultimamente no Brasil e no mundo - ok, por aqui eu tenho certeza que não há nada parecido; no mundo eu to generalizando legal, mas quero dizer do que eu fico sabendo. Uma fotografia abusada de linda, em preto e branco com alta granulação. É um filme de detalhes: muitos planos fechados, expressões, texturas, tons de cinza. Trilha sonora original incrível que ajuda a compor essa fábula. É uma verdadeira e sublime obra-prima. A história, realmente, dá um nó na gente.

O filme se passa em um dia, 24 horas. Para a personagem principal, esse dia significa uma vida inteira - literalmente, ela começa o filme bebê e termina uma senhora e morre. Para todo o resto, é exatamente um dia mesmo, como outro qualquer. Na verdade, Clarice começa o filme morrendo, de madrugada. Pela manhã (no seu tempo todo particular) ela nasce. Chegando a tarde ela tem uns 10 anos, na pele da lindinha Raquel Bonfante. Mais para o fim da tarde, se transforma na Simone Spoladore. Ela morre na madrugada na pele de Regina Bastos. As duas personagens se chamam Clarice: a que morre e a que nasce.

É um filme que faz a gente pensar. A vida que ela vive nesse dia é mais ou menos a mesma vida da que morreu. Ela reconhece na família da Clarice morta, sua própria família. Mas não é reconhecida por eles, a única semelhança que a família vê nas Clarices é o nome. E eu saí do filme com a questão: são mesmo duas Clarices ou é uma só? Porque que ninguém reconhece? Cada frame desse filme é de chorar. Deveria ser lançado um livro daqueles bem grandes e caros de fotografia só com imagens extraídas do longa. O maior dificultador de público é o tempo da história. É extremamente lento - o que, pra mim, está longe de ser defeito nesse caso.


Inspirado na música Olhos nos olhos, de Chico Buarque.
Uma pena que uma música tão boa rendeu um filme tão chato.

Outro filme lento é O Abismo Prateado, mas nesse caso o tempo vai contra a história. Umas cenas desnecessárias que não contribuem para a história, outras extremamente chatas... a sinopse é uma mulher que é abandonada pelo marido que - quase melhor que o post-it da Carrie, em Sex and the City - faz isso por um recado no celular. Confesso que dormi metade do filme. No começo, cenas mal enquadradas, apertadas demais. O marido sai do banho, fica na varanda e depois fica um tempo com a geladeira aberta para escolher o que quer, nu. Um nu completamente dispensável para o filme (diferente das intermináveis cenas de Eu receberia... por exemplo). E a mulher é dentista, outro fato irrelevante, e tem cenas com bocas sangrando e aquele barulho insuportável de motor de dentista. Tremi de nervoso na cadeira.


#Seven nation army - The White Stripes

---
* Quero ver essa revitalização da Zona Portuária BOMBANDO hein... poxa, vários eventos já são sediados por ali, o público (e os moradores do Rio de Janeiro em geral) merece uma área mais apresentável no Cais.

2 comments:

Marina said...

Mary, gosto do teu jeito de escrever! boas críticas devem ser feitas, mesmo sendo contra são positivas quando bem formuladas. Quero ver os 2 filmes, e emitir minha própria opinião. Tomara que os organizadores do evento recebam suas e outras críticas, para melhorarem !

Branca said...

quero que acabe esse festival logo pra vc começar a falar de filmes que eu posso ver. fico com muita vontade de ver todos depois que vc fala aqui :(